por Rafael Lancellote*
Na semana passada, fizemos uma análise histórica sobre como que a Ética era abordada em cada época e quais os problemas que ela buscava enfrentar. No artigo de hoje e no da semana que vem, focaremos nos principais filósofos e suas ideias sobre a Ética visando dar um panorama mais específico de como os vestibulares cobram essa grande área da Filosofia.

A Ética surge como problema filosófico já com os gregos, preocupados em compreender qual o sentido da vida e de que maneira devemos agir para realizar esse sentido.

Aristóteles é, de fato, o grande representante grego dessa problemática ao abordar o sentido da vida a partir de uma perspectiva teleológica, isto é, identificando a presença de metas e fins últimos, guiando tanto a natureza e a humanidade na organização e nas transformações de todos os seres.

Em outras palavras, Aristóteles entende que tudo o que existe, existe para uma finalidade atribuída pelo cosmos a fim de manter a harmonia e a ordem universal. Logo, o sentido da vida e os comportamentos dos seres humanos devem convergir para a realização plena das virtudes atribuídas pelo universo, tendo como fim último das ações, a “eudaimonia” ou o bem último a que todos os seres aspiram. Também é importante compreender a relação intrínseca entre o conhecimento, a ética e a política para os gregos clássicos, estabelecendo a ideia central do cidadão pleno e do ideal de ser humano.

Essa estreita relação entre Ética e Política será desfeita no período renascentista por Maquiavel e outro pensador muito relevante para a questão da Ética na Filosofia. Rompendo com a tradição grega e também com a cristã-medieval, Nicolau Maquiavel é o precursor do Realismo Político e da Ética Consequencialista-Pragmática. Para o filósofo florentino, a Ética tradicional é focada na ideia de virtude da busca pelo bem-comum, sendo apenas um ideal muito distante da realidade, pois Maquiavel entende que há um abismo entre o modo como deveríamos agir e o modo como realmente agimos.

Segundo ele, os seres humanos são movidos por interesses egoístas e agem no sentido de realizá-los. Dessa forma, o guia da ação humana não seria o bem-comum ou a ideia de justiça, mas sim aquilo que é necessário para a obtenção daquilo que desejamos, sendo o valor da ação julgada a posteriori, isto é, a partir das consequências advindas da ação. Se estas estiverem de acordo com a finalidade pretendida, é uma ação correta, se as consequências se afastarem do fim pretendido, é uma ação moralmente ruim. Em outras palavras, o resultado obtido, quando adequado aos interesses do agente, é definidor do valor moral da ação. Dessa forma, a ética maqueaveliana, rompe com a tradição de que bem e mal são valores em si mesmo e apontam para uma moralidade relativa, focada nos interesses individuais do agente.

Ainda dentro da perspectiva consequencialista, mas na direção oposta, o Utilitarismo surge na modernidade buscando critérios mais objetivos para julgar a ação como moralmente correta e desejável. Jeremy Bentham e John Stuart Mill são os dois principais filósofos dessa corrente que defende que o referencial para a ação não seja a finalidade pretendida pelo agente, mas sim a satisfação do maior número de pessoas. Em outras palavras, age certo aquele que proporciona o maior bem-estar ao maior número de indivíduos, mesmo que a ação seja contraditória com o desejo e satisfação do agente. Dentro dessa perspectiva, há uma crítica à moral egoísta do pragmatismo ao mesmo tempo em que visa estabelecer um critério objetivo para determinar a ação correta.

Em contraposição à moral consequencialista, surge a Ética Deontológica, também conhecida como Intencionalismo Moral, cuja premissa é de que o valor moral da ação não pode ser julgado pelas consequências produzidas, uma vez que são incontroláveis e indeterminadas, mas sim por princípios racionais que conferem sentido e significado para a ação realizada. Em outras palavras, devemos agir segundo regras e princípios racionais que determinam o que é o certo e não por nossos desejos pessoais e nem para agradar o maior número de pessoas. O grande representante dessa perspectiva moral é Immanuel Kant.

Como determinamos as regras do que é certo e errado? Para Kant é moralmente correta a ação que está de acordo com determinadas regras do que é certo, independentemente da felicidade resultante a um ou a todos. O princípio que rege a ação é o dever e não interesses egoístas ou motivações empíricas. Devemos estabelecer um critério universal que confere validade à ação, independente de causas e consequências externas. Em outras palavras, devemos ajustar a nossa ação a princípios e não caso a caso.

Dessa forma, Kant cunhou o Imperativo Categórico que confere um princípio a ser levado em conta na realização da ação, que diz o seguinte: “Age de tal forma que a norma da tua conduta possa ser tomada como universal”. Temos aqui a regra de ouro da moral kantiana que busca afastar da ação correta quaisquer interesses pessoais ou variáveis externas que não a boa vontade.

Semana que vem abordaremos os principais filósofos contemporâneos no campo da Ética. Até lá!

*professor de filosofia e sociologia do Cursinho da Poli

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