“Sonho que as minhas quatro crianças viverão um dia num país onde não as julguem pela cor da pele, mas pela natureza do seu caráter.”
Martin Luther King Jr.

Luis Gustavo Reis*
Hoje, dia 4 de abril de 2018, completam-se cinquenta anos do assassinato de Martin Luther King Jr., ícone da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Morto a tiros na sacada de um hotel em Memphis, no Tennessee, Dr. King, como era conhecido, não viu seu principal sonho ser realizado, mas seu legado constitui elemento fundamental na luta pela construção de um mundo livre dos grilhões do racismo.

Dono de uma retórica inflamada que misturava o fervor religioso a ideais políticos, King arrastava multidões por onde passava. Seus discursos criticavam a péssima situação dos negros, a falta de oportunidades igualitárias entre negros e brancos, a pobreza galopante e a desigualdade econômica que consumia a sociedade norte-americana. Além disso, criticava veementemente a Guerra do Vietnã, iniciativa que lhe rendeu o posto de inimigo do governo estadunidense.

Martin Luther King Jr. nasceu na cidade de Atlanta (EUA) no dia 15 de janeiro de 1929. Filho de pastores da Igreja Batista, resolveu seguir o mesmo caminho dos pais e formou-se em Teologia em 1951. Quatro anos mais tarde, concluiu doutorado em Filosofia e prontamente assumiu a função de pastor na cidade de Montgomery, no Estado do Alabama, local onde ocorriam os maiores conflitos raciais do país.

Desde meados de 1950, vigorava nos estados do sul dos Estados Unidos uma doutrina conhecida como “separados, mas iguais” (separate but equal), com leis que exigiam lugares separados para negros e brancos em diversas instituições e estabelecimentos. Setores como os de serviços, instalações, acomodações, cuidados médicos, educação, emprego e transporte poderiam ser organizados baseados em critérios raciais.

Tal medida determinava, por exemplo, que os negros estavam proibidos de andar no mesmo ônibus, usar as mesmas entradas em estabelecimentos, tomar banho na mesma piscina ou frequentar a mesma escola que os brancos. Apesar de a discriminação racial estar constitucionalmente proibida, essas leis estaduais procuravam preservar o status quo existente antes da abolição da escravatura.

No dia 1º de dezembro de 1955 um evento mudaria completamente a vida de Luther King. Nesta data, Rosa Parks se negou a ceder seu lugar no ônibus a um homem branco e, por isso, foi detida, multada e processada. Reagindo à detenção de Parks, centenas de famílias negras da cidade de Montgomery (Alabama), convocadas por King, iniciaram um boicote ao sistema de ônibus local: ficaram um ano e dezesseis dias sem utilizá-lo para protestar contra o racismo no transporte público.

Enquanto durou esse movimento, a casa de King foi atacada e ele foi ameaçado de morte; mas o movimento foi vitorioso: a Suprema Corte proibiu qualquer tipo de segregação no transporte público.

Pacifista convicto, inspirado na filosofia do indiano Mahatma Gandhi, o reverendo pregava a não violência como forma de contestação às mazelas sociais e à guerra. Ainda que as manifestações por direitos civis tivessem caráter pacifista, o combate a elas não seguia sempre a mesma postura. Um exemplo foi a ação repressora que ocorreu em Birmingham, Alabama, em maio de 1963, quando foram usados cães policiais contra manifestantes e, dias depois, a explosão de dinamites implantadas pela Ku Klux Klan dentro de uma igreja, causando a morte de quatro adolescentes e dezenas de feridos.

A essa altura o movimento organizado por King já ganhara diversos adeptos, inclusive fora dos Estados Unidos. Em agosto de 1963, uma marcha organizada por ele reuniu mais de 250 mil pessoas em Washington e pressionou o governo a aprovar a Lei dos Direitos Civis (1964), que pôs fim às segregações raciais em locais públicos e privados. No ano seguinte, foi aprovada a Lei do Direito de Voto, estendendo esse direito a todos os negros do sul, até então impedidos de votar.

Passados 50 anos da morte do reverendo, a luta dos negros ainda não terminou. Os reiterados atos de violência contra a população negra, seja nos Estados Unidos ou no Brasil, demonstram que há um longo caminho pela frente. Demonstra ainda que os ativistas de direitos humanos continuam sendo barbaramente assassinados, abatidos à bala, como recentemente aconteceu com a ativista e vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco.

É importante constatar que a cidadania de cada negro espalhado pelos quatro cantos do globo, especialmente nos Estados Unidos da América, carrega o DNA de Martin Luther King Jr. O corpo do ativista tombou à sepultura, mas seus ideais permanecem vivos e orientam todos aqueles que lutam por um mundo onde a cor da pele não seja o imperativo das relações entre os seres humanos.

*Luis Gustavo Reis é professor de História do Cursinho da Poli.

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