Por Eva Albuquerque
A canção “Tanto Mar”, de Chico Buarque de Holanda, foi composta em 1975 e teve como inspiração a revolução popular ocorrida em Portugal em 25 de abril de 1974 conhecida como a Revolução dos Cravos. Ela derrubou o ditador Antônio de Oliveira Salazar e implantou um regime democrático, marcado por forte orientação socialista.

Lançada em agosto de 1975, “Tanto Mar” reflete a expectativa e a  empolgação, por parte do compositor brasileiro, em relação à situação vivida em Portugal. A canção tem duas versões. A primeira foi vetada pela censura brasileira e gravada apenas em Portugal. A segunda foi gravada em 1978 e altera alguns versos em relação à primeira. Aqui trataremos da primeira versão.

Na letra, há um eu lírico que envia, daqui do Brasil, uma carta a um amigo de Portugal, a quem ele trata por “pá” (corruptela de “rapaz”, tratamento que corresponde, aqui no Brasil, a “cara”, “mano”).  Os dois países estão em situações opostas, o que pode ser verificado pelos versos: “Lá faz primavera, pá, / Cá estou doente”. Portugal está comemorando a Revolução, enquanto o Brasil está triste e pesaroso por causa da Ditadura Militar.

O eu lírico fica feliz em saber que o amigo português está “em festa”. Diz que fica “contente”, pede que ele lhe guarde “um cravo” e afirma que queria estar lá, festejando os acontecimentos, mas não pode. Primeiro porque há a distância do mar separando os dois “sei que há léguas a nos separar/ tanto mar, tanto mar”, depois porque (em uma alusão à ditadura no Brasil) o eu lírico está “doente”. Então, só lhe resta pedir ao amigo português que lhe mande “urgentemente algum cheirinho de alecrim”, planta típica portuguesa de cheiro ativo e agradável.

Veja a letra e ouça a canção:

Tanto Mar

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

*professora de literatura e redação do Cursinho da Poli

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