Por Eva Albuquerque
Em 17 de maio de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID). Isso significa reconhecer que a atração física, estética ou emocional que uma pessoa sente por outra do mesmo sexo biológico ou do mesmo gênero que o seu, ao contrário do que já se chegou a pensar, não é (nem nunca foi) uma doença e, assim, não pode ser curada. A homofobia não passa, portanto, de um preconceito. E em 17 de maio se comemora – no mundo todo – o Dia Internacional Contra a Homofobia.
Falar sobre homofobia é falar também sobre homossexualidade, assunto polêmico ainda hoje, como, aliás, sempre o foi. Aristófanes, por exemplo, em um dos mais belos discursos escritos sobre Eros, o deus do amor, fez também uma bela defesa da homossexualidade. No livro ‘O Banquete’, de Platão, o poeta narra o mito da nossa unidade primitiva e posterior mutilação.
Segundo Aristófanes, inicialmente havia “três sexos humanos e não apenas dois: o masculino e o feminino – mas acrescentava-se mais um, que era composto ao mesmo tempo dos dois primeiros”, o qual era chamado de andrógino. Os homens possuíam formas redondas, eram robustos e vigorosos e a sua coragem muito grande. Isso inspirou-lhes audácia e eles resolveram atacar os deuses. Zeus, então, seccionou-os pela metade.
Desde então, de acordo com o poeta, seccionada a natureza humana, cada uma das metades pôs-se a procurar a outra. “Quando se encontraram, abraçaram-se e se entrelaçaram num incontrolável desejo de novamente se unirem para sempre”. Nas palavras do poeta: “É daí que se origina o amor que as criaturas sentem umas pelas outras; e esse amor tende a recompor a antiga natureza, procurando de dois fazer um só, e assim restaurar a antiga perfeição”.
Aqui Aristófanes apresenta uma explicação para o amor homossexual feminino e masculino. Segundo o poeta, as mulheres que se originaram do antigo gênero feminino sentem atração por mulheres, e os homens que se originaram do antigo gênero masculino sentem atração por homens. O poeta afirma que não se deveria ter vergonha disso. Pelo contrário. Em relação aos homens ele escreve: “Há quem pretenda que eles não têm vergonha. Não é verdade: pois não é por impudência, mas por audácia, coragem e virilidade que eles assim procedem, amando o que lhes é semelhante”.
Muitos séculos já se passaram desde Aristófanes, e hoje pouca gente deve conhecer esse mito. No entanto, ele deve falar a nosso favor e contra a homofobia. Não é dos iguais que devemos ter medo. E sim do preconceito.
Entre tantos movimentos e reivindicações pelo respeito à diversidade – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Intersexo, Queer, entre outros -, é importante que se diga que o que se deseja sempre é melhorar as condições da vida de qualquer pessoa em sociedade. Em função disso, busca-se também construir um “lugar de fala” – para usar uma expressão em voga na contemporaneidade – em que se afirme a identidade, a singularidade, a percepção subjetiva que cada um tem de si.
Esse lugar é fundamental para o diálogo como reconhecimento do outro. É ele que deve expressar o direito de existir e de ser respeitado.
*professora de literatura e redação do Cursinho da Poli