Por André Valente*

Desde 2002, no dia 21 de maio é celebrado o Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento. A data foi fixada pela Assembleia Geral da ONU em comemoração da aprovação, em 2001, da Declaração Universal da UNESCO sobre a Diversidade Cultural, a qual estipula que a diversidade cultural é um patrimônio comum a todos os povos da humanidade, essencial para a manutenção da paz, condição sem a qual é impossível se pensar em desenvolvimento humano, econômico e social.

Cultura é um tema complexo. Não é possível darmos uma definição única para o termo, até por que as definições também são resultado de concepções culturais diversas. No entanto, de modo geral, podemos dizer que seja resultado das relações humanas e sociais e da ação humana sobre a natureza.

Sendo assim, retirar uma planta de seu habitat natural e replantá-la em um vaso ou em um sítio é produzir cultura; desviar o curso de um rio para a construção de uma barragem, de uma usina ou de um lago artificial; nossa alimentação, o idioma que falamos e suas variações, o modo como expressamos sentimentos, a ideia que temos de nós, das outras pessoas e do mundo; as roupas que usamos, as artes que cultivamos, nossas crenças espirituais e políticas ou a negação delas, nossas relações afetivas e ou sexuais, tudo isso é produto e produtor de cultura.

Hoje, essas discussões fazem parte de nosso dia a dia, no entanto, nem sempre foi assim. Na primeira metade do século XX, as crises econômica, política e social que atingiram a Europa e o Brasil deixaram solo fértil para a ascensão de governos autoritários e totalitários, como o Fascismo, o Nazismo, o Stalinismo na Europa, e o Estado Novo no Brasil, que impuseram a seus povos e a ao mundo uma agenda cultural que não permitia diversidade de ideias, de opiniões, de modos de viver e de agir.

Para manter o controle da sociedade, eram criados órgãos responsáveis por gerarem, no imaginário popular, ideias sobre nação, identidade nacional, sociedade e quais eram os inimigos a serem combatidos. Esses órgãos eram, também, responsáveis por censurarem as expressões artísticas e culturais que não estivessem de acordo com seus ideais.

Esse controle era feito, diretamente pelos Estados, por meio de leis e normas, pela força física e pela manipulação, cooptando artistas e intelectuais, com o apoio de instituições religiosas e dos meios de comunicação, que fortaleciam as ideias de uma sociedade homogênea, em que todas e todos pensassem, agissem e vivessem da mesma maneira, sem divergências, nem questionamentos.

Essa intolerância foi o principal combustível para as atrocidades promovidas nas duas grandes guerras do século XX. Por isso, após o final da II Guerra Mundial, as discussões sobre diversidade tornaram-se essenciais para a construção de uma ideia de paz.

Enfim, a diversidade cultural não pode ser decretada, ela é observada e praticada. A finalidade dessa data é alimentar a experiência dessa diversidade, promovendo a reflexão e o diálogo e com isso a busca de possibilidades práticas de desenvolvimento, o reconhecimento da cultura como elemento indispensável do desenvolvimento sustentável e do respeito às pessoas e ao meio ambiente, sempre lembrando que a principal manifestação de respeito à diversidade é a disposição para ouvir o outro e compreender suas ideias, pois como canta O Rappa “Paz sem voz, não é paz, é medo.”

*professor de português e literatura do Cursinho da Poli


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