Do Portal G1

Os debates sobre a importância do ano de 1917 para a história mundial encontram estudantes preocupados: qual a chance de a efeméride ser cobrada no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) ou em outros vestibulares? Quais os temas realmente fundamentais sobre a data?

G1 ouviu professores de cursinhos que listaram mitos, legados e fatos essenciais. Gianpaolo Dorigo observa que o Enem “nunca fez perguntas sobre a Revolução Russa” e “não costuma fazer perguntas a partir de datas notáveis ou efemérides em geral”. Se for essa a primeira vez, veja abaixo pontos para considerar:

Mitos

“- ‘Sim, ela também morreu’. Essa é uma das respostas a uma das mais tradicionais curiosidades dos alunos na aula sobre Revolução Russa, a dúvida é sobre a Anástacia, uma das filhas do czar Nicolau II. Os alunos questionam se ela foi mesmo executada pelos bolcheviques. A dúvida e a curiosidade dos estudantes provavelmente foi construída pelo imaginário popular, pelo cinema e, claro, a animação da Fox Filme que leva o nome da princesa, em que esta supostamente se salvara. O porquê da execução é algo mais obscuro, pois cogita-se que ordem pode ter partido de Moscou ou de um soviete local, no entanto, é provável que isso tenha relação com o receio de uma restauração czarista em meio à guerra civil que transcorria após a Revolução”, diz Kaili Takamori, professora de História do Cursinho da Poli.

“A Revolução Russa foi explicada pelos seus líderes e legitimada aos olhos de seguidores do mundo inteiro como um movimento inevitável, que seguiria o roteiro histórico do colapso global do capitalismo a partir do seu “elo mais fraco”, a Rússia, onde o desenvolvimento tardio do capitalismo gerou uma burguesia mais frágil, ou seja, mais propensa à derrubada pelo movimento popular. Toda essa narrativa converteu-se em um mito, devido à derrocada futura do regime, à falta de unidade do socialismo mundial e ao prosseguimento da história fora de qualquer roteiro previsto ou estrutura rígida”, comenta Gianpaolo Dorigo.

“Um mito em torno da Revolução Russa seria a ideia de que Stálin teria distorcido os princípios do movimento ao se tornar um ditador. Em primeiro lugar, a história da Revolução Russa de 1917 compreendeu uma intensa disputa entre diversos grupos políticos com projetos muito variados para o futuro do país, sendo que a ascensão dos comunistas representa uma parte desse processo. Em segundo lugar, os bolcheviques, que atuaram ao lado de Lênin ou sob sua liderança, consideravam a violência como instrumento de luta política e a ditadura do proletariado como caminho para o socialismo”, explica Thomas Wisiak.

Legados

“Guardadas as devidas proporções, é habitual a comparação entre a Revolução Russa (1917) e a Francesa (1789), por vezes, compara-se a francesa com a Revolução Inglesa (1642) também, embora este não seja exatamente nosso objeto de reflexão. Contudo, podemos observar uma gradação com relação à participação popular nestes movimentos: na Inglaterra, a participação de camponeses foi muito pequena, ao passo que na França revolucionaria esse número é ampliado vultuosamente; já na Rússia, os novos tempos trazem além dos trabalhadores rurais uma significativa participação de trabalhadores urbanos como nunca fora vista antes. Se quisermos trazer o objeto de reflexão para a América, em 1910, iniciou-se uma revolução no México em que também foi possível observar a expressiva participação popular”, conta Kaili Takamori, professora de História do Cursinho da Poli.

“Teses recentes sugerem como principal legado da Revolução Russa foi nada menos que o bem-estar social, ou seja, a distribuição e renda em larga escala nos países capitalistas avançados, sob a forma de educação, saúde e habitação para os setores populares. O temor de movimentos revolucionários socialistas ou de uma guinada rumo ao bloco soviético, principalmente nos anos da Guerra Fria, acabou estimulando os governos dos países capitalistas avançados a adotarem práticas socialdemocratas de distribuição e renda. Tal legado permanece até hoje, em que pesem as crescentes críticas ao modelo justamente após o fim da União Soviética”, diz Gianpaolo Dorigo.

“Um legado num sentido mais estrito seria a intensa industrialização e urbanização do país, que continua sendo uma potência militar e, principalmente, nuclear. Num sentido mais amplo, a URSS exerceu uma grande influência na política mundial ao longo do século XX, tornando-se um paradigma para movimentos de libertação nacional, especialmente no chamado terceiro mundo”, diz Thomas Wisiak.

Fatos essenciais

“A Revolução não começou em 1917. O que se assiste no princípio de 1917 é a explosão de um processo revolucionário que vinha sendo maturado há tempos dentro do Império Russo, a exemplo da Revolução de 1905, que muitos historiadores consideram uma pré-revolução ou para alguns o primeiro ano da Revolução”, diz Kaili Takamori, professora de História do Cursinho da Poli.

“Um fato essencial é a onda de greves operárias na cidade de Petrogrado – iniciada principalmente por mulheres que trabalhavam na indústria têxtil, no final de fevereiro de 1917 (segundo o calendário adotado na época) e que levaram à abdicação do czar Nicolau II. A renúncia do monarca absolutista desencadeou uma disputa pelo poder que destruiu o antigo império e resultou na organização da URSS”, afirma Thomas Wisiak.

“O fato essencial da Revolução Russa é a Revolução de Outubro, ou seja, o golpe do Partido Bolchevique contra o Governo Provisório. Dessa forma, a possibilidade de criação e um regime liberal foi afastada – mesmo porque o Governo Provisório adotava medidas bem pouco populares”, conta Gianpaolo Dorigo.

Reportagem original publicada pelo portal G1.

Link original: https://g1.globo.com/educacao/enem/2017/noticia/100-anos-da-revolucao-russa-veja-mitos-legados-e-fatos-essenciais-que-podem-cair-no-enem-e-nos-vestibulares.ghtml

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