Em dicadotio.com.br, 11 de Novembro de 2019
O segundo dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2019 teve questões que exigiram muitos cálculos dos candidatos, segundo professores de cursinhos ouvidos pelo G1 . As contas foram necessárias não apenas nas questões de matemática, mas também em perguntas de física e química, que fazem parte do bloco de ciências da natureza. Na edição deste ano, os alunos receberam, pela primeira vez, quatro páginas em branco para usar de rascunho.
“Não foram muitos assuntos específicos ou coisas que não eram esperadas, mas chamou atenção a quantidade de operações que eram necessárias para chegar à alternativa correta”, diz Fernando da Espiritu Santo, gerente de inteligência educacional e avaliações do Poliedro, referindo-se às questões de matemática.
Provas do segundo dia do Enem 2019 — Foto: Ana Carolina Moreno/G1
Apesar do grande volume de cálculos, os professores avaliam que a prova não surpreendeu. O exame foi considerado abrangente porque avaliou diversas competências de cada matéria, e não apenas um ou outro assunto em cada disciplina. E, como é comum no Enem, algumas questões se resolviam apenas com a leitura atenta do texto introdutório.
“Eles realmente varreram as matérias. Foi uma prova bem diversificada em termos de conteúdo.” – Vera Lúcia Antunes, coordenadora pedagógica do curso e colégio Objetivo.
A abordagem dos temas foi criativa e contextualizou assuntos do dia a dia dos candidatos: teve truque de culinária, conversão de moedas e até aplicativo de encontros.
Veja o que mais caiu no Enem
Confira os temas que chamaram atenção nas redes sociais
Leia abaixo os comentários de professores de colégios e cursinhos pré-vestibulares:
Anglo Vestibulares : Daniel Perry (diretor)
: Daniel Perry (diretor) COC : Paulo Augusto Bisquolo (física) e Luiz Edgar de Carvalho (química)
: Paulo Augusto Bisquolo (física) e Luiz Edgar de Carvalho (química) CPV Vestibulares : Armando Muller (química), João Tamayo (biologia) e Alexandre Antonello (coordenador pedagógico)
: Armando Muller (química), João Tamayo (biologia) e
Alexandre Antonello (coordenador pedagógico) Colégio AZ : Júlio Cesar
(professor de química)
: Júlio Cesar (professor de química) Cursinho da Poli : Moisés Rodrigues da Silva (matemática) e Sérgio Souza (química)
: Moisés Rodrigues da Silva (matemática) e Sérgio Souza (química) Curso e Colégio Objetivo : Vera Lúcia Antunes (coordenadora pedagógica)
: Vera Lúcia Antunes (coordenadora pedagógica) Curso Pré-Vestibular Oficina do Estudante : Marcelo Pavani (diretor pedagógico)
: Marcelo Pavani (diretor pedagógico) Etapa: Daniel Berto (biologia) e Alexandre Borges (matemática)
Daniel Berto (biologia) e Alexandre Borges (matemática) Poliedro : Fernando da Espiritu Santo (gerente de inteligência educacional)
: Fernando da Espiritu Santo (gerente de inteligência educacional) ProEnem : Camila Cavalieri (biologia) e Ricardo Fagundes (física)
: Camila Cavalieri (biologia) e Ricardo Fagundes (física) SAS Plataforma de Educação: Ademar Celedônio (diretor de ensino e inovações educacionais)
Questões de biologia ‘criativas e contextualizadas’
Enquanto outras disciplinas abordaram temas que sempre aparecem no Enem, as questões de biologia fugiram do óbvio: alguns temas caíram pela primeira vez na prova deste ano, de acordo com professores ouvidos pelo G1.
“Uma questão que nunca havia caído abordava a genética de linkage. Apesar de inédita, ela era bem acessível porque foi muito bem contextualizada”, explica Ademar Celedônio, do SAS.
Segundo Celedônio, trata-se de um assunto que os professores “acabam ensinando, mas nunca imaginavam que chegaria a cair porque não havia tanta possibilidade de contextualização”.
Daniel Berto, coordenador de biologia do Grupo Etapa, concorda que o exame apresentou questões bem contextualizadas, “com assuntos recentes e dificuldade mediana.”
“Algumas destaques positivos foram as questões sobre estratégias para minimizar lançamento de medicamentos no ambiente e uma que aborda o The Kidney Project, que propõe a criação de um rim biônico para pacientes que dependem de hemodiálise”, disse Berto, do Etapa.
Uma questão considerada polêmica pelos professores falava sobre o deslocamento de peixes em direção à luz.
“Apesar de existir um movimento chamado fototropismo, o deslocamento em direção a luz é classificado como fototactismo”, diz Berto. O termo correto, segundo o professor, não constava entre as alternativas. Segundo Vera Lúcia Antunes, coordenadora pedagógica do Objetivo, os professores de biologia do colégio consideram que a questão não tinha resposta correta.
ENEM 2019 – Segundo dia de provas, perguntas do caderno CINZA — Foto: Reprodução/Inep
Para o professor João Tamayo, do CPV, “70% da prova teve nível de dificuldade elevado”. Ele destacou ainda o equilíbrio entre os conteúdos abordados na disciplina, que exigiu “excelente preparo e atenção dos candidatos.”
Prova de química ‘conteudista’
Na visão da maior parte dos professores ouvidos pelo G1, a prova de química exigiu conteúdos que sempre aparecem, mas de maneira criativa.
“A prova incluiu situações não convencionais, que fogem dos assuntos mais óbvios. Foram questões bem pensadas, não eram abordagens ‘batidas’”, disse Vera Lúcia Antunes, coordenadora do Objetivo, sobre o exame de química.
À exceção de outras disciplinas, em química a prova do Enem não exigia muitos cálculos. Segundo os professores, apenas duas questões demandavam operações matemáticas mais complexas em sua resolução.
“Só duas questões exigiam cálculos, que eram simples, mas
demandavam um tempo maior na resolução”, disse Luiz Edgar Carvalho,
professor de química do COC.
Para Ademar Celedônio, do SAS Plataforma de Educação, a disciplina exigiu mais interpretação dos enunciados.
“Em relação a 2018, tivemos enunciados mais diretos, muito mais interpretação e menos cálculo. Isso levava o aluno a ter mais conhecimento de mundo”, avaliou Ademar Celedônio, do SAS Plataforma de Educação.
Segundo Armando Muller, da equipe de química do CPV Vestibulares, um fato notável foi a ausência da necessidade de conhecimento de fórmulas e de realização de cálculos trabalhosos.
“Eram questões que tinham um nível de dificuldade de médio para baixo e envolviam textos curtos”, disse Sérgio Souza, professor de química do Cursinho da Poli . “Vimos também um contexto de química do cotidiano e ambiental”. Para Souza, uma das questões mais difíceis foi a que abordou a degradação do polímero PET.
ENEM 2019 – Segundo dia de provas, perguntas do caderno CINZA — Foto: Reprodução/Inep Muita conta na prova de física
Os professores de física destacaram a necessidade de cálculos matemáticos trabalhosos em muitas das questões. A folha de rascunho disponível para os candidatos pode ter sido insuficiente para tanta conta.
“A grande dificuldade em física estava nas contas. Era uma prova em que os números escolhidos levavam a cálculos difíceis de fazer a mão, sem calculadora. Geralmente os números são mais redondos, para fazer com que o aluno não perca tanto tempo com cálculos” – Marcelo Pavani, da Oficina do Estudante.
A quantidade de cálculos fez com que alguns professores considerassem a prova de física deste ano mais difícil.
“O que eu achei estranho é que havia muitas questões com um bom cálculo, bastante continha pra fazer. Seguramente praticamente metade da prova foi de cálculo”, disse Paulo Augusto Bisquolo, professor de física do Sistema COC de Ensino.
Segundo Alexandre Antonello, do CPV, houve um acréscimo no grau de dificuldade nas questões de física em relação ao ano anterior: “elas exigiram um bom conhecimento teórico do aluno, muita interpretação e também bastante esforço nos cálculos”, disse.
Para o professor de física Harley Sato, do Anglo, a questão que abordou a força impulsiva média gerada por um tijolo em queda livre pode ser considerada sem solução.
“Ele está pedindo a força impulsiva média. Então nós estamos admitindo que esta é a força trocada entre o capacete e o tijolo, que é a força normal. A intensidade da normal vai dar 3 vezes a intensidade do peso, e não 2 vezes, como descreve uma das alternativas”, explica.
ENEM 2019 – Segundo dia de provas, perguntas do caderno CINZA — Foto: Reprodução/Inep
“Para chegar à alternativa que fala em força 2 vezes maior, você teria que usar a força resultante, e não normal. Poderíamos pensar que o peso pode ser desprezado, mas não é o correto, então marcamos sem resposta”, explicou Sato.
As questões de matemática foram um dos destaques do Enem deste ano, segundo Fernando da Espiritu Santo, do Poliedro. “Não foram muitos assuntos específicos, nem teve coisas muito inesperadas. Mas teve questões densas, que exigiam uma grande quantidade de operações para se chegar à alternativa correta”, disse.
“Essa prova veio com uma cobrança maior, uma exigência maior principalmente na parte de cálculos”, afirma Fernando da Espiritu Santo, do Poliedro.
Esse fato, avalia o professor, fez com que o candidato perdesse bastante tempo nas questões dessa disciplina. “Em alguns casos, não seria preciso nem terminar de fazer as contas no rascunho. Ele podia ir estimando a alternativa correta e já ir para a próxima questão.”
Por outro lado, Vera Lúcia
Antunes, do Objetivo, observou que os textos da Matemática foram, em geral,
mais curtos do que o habitual para o Enem. “Foi uma prova
mais fácil do que no ano passado e bastante abrangente em assuntos”, avalia.
“Algumas questões foram muito criativas, como uma de Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), na qual se poderia chegar à resposta correta sem fazer cálculos.”
Nesse mesmo sentido, ela cita a questão sobre concentração de álcool, que também exigia mais leitura e interpretação do que contas.
ENEM 2019 – Segundo dia de provas, perguntas do caderno CINZA — Foto: Reprodução/Inep
Júlio Cesar, do Colégio AZ, achou que a prova de Matemática foi bem “redonda”. Segundo ele, a prova apresentou poucas surpresas, e seguiu a linha mais “conteudista” deste ano. “Uma das questões de cálculos era a mais difícil da prova, a meu ver, que envolvia cálculos com números não muito redondos.” Ele considerou a seção dedicada à Matemática como de nível alto, mas “ideal para quem se preparou bem”.