Objetivo do exame é saber o que alunos do estado e do município aprenderam na quarentena

Regiane Soares
SÃO PAULO

Uma prova que será aplicada a todos os alunos das redes municipal e estadual de São Paulo após o retorno das aulas presenciais para avaliar o que eles aprenderam durante a quarentena é o que vai definir quando os estudantes vão terminar o ano letivo de 2020.

A previsão inicial é que as aulas de reforço e recuperação se estendam até 2021, e não está descartada a possibilidade de que a conclusão dos conteúdos seja apenas em 2022, segundo a Secretaria Estadual de Educação, gestão João Doria (PSDB).

Chamada de avaliação diagnóstica, a prova vai mostrar um perfil dos alunos de cada escola e, a partir daí, os professores vão dar continuidade ou não ao que foi previsto de conteúdo para o ano letivo de 2020.

Segundo o secretário municipal de Educação de SP, Bruno Caetano, todo o calendário do ano letivo, reforço e recuperação escolar vão depender do resultado da avaliação diagnóstica. “Finalizada a avaliação e traçando um perfil de cada escola e de cada sala de aula, os professores vão retomar o ano letivo a partir do ponto que o diagnóstico indicar”, afirmou o secretário.

Caetano admitiu que uma mesma sala de aula poderá ter alunos em níveis diferentes de aprendizado. Para compensar essa diferença, a prefeitura pretende colocar o ensino em período integral em todas as escolas da capital. As que não tiverem espaço físico para o contraturno, os alunos receberão tablets e pacote de dados para assistirem às aulas pela internet. Caetano disse ainda que os conteúdos dos anos letivos de 2020 e 2021 serão trabalhados juntos. Por isso, não haverá reprovação.

Já na rede estadual, o secretário-executivo de educação, Haroldo Correa Rocha, também afirmou que será a avaliação diagnóstica que vai definir a retomada do conteúdo. Segundo ele, o programa de recuperação e reforço para quem não conseguiu aprender o que era esperado já está pronto e será aplicado também pela internet, por meio do centro de mídias da secretaria.

“O centro de mídias dará flexibilidade para fornecer as aulas de reforço mais as aulas de conteúdo normal do ano letivo”, afirmou Rocha, ao lembrar que o conteúdo letivo de 2020 vai se estender até 2021, podendo terminar apenas em 2022, mas ainda não está definido se haverá ou não reprovação dos alunos.

Sobre os alunos que estão no último ano do ensino médio e pretendem prestar vestibular, os dois secretários confirmaram que terão prioridade na retomada das aulas presenciais para que possam concluir o curso.

Professores ainda estão com receio de retornar

Após o curto período de adaptação para darem aulas pela tela do celular ou do computador, professores de todas as redes de ensino já pensam em como será o retorno das aulas presenciais.

A professora Sheila Santos Costa Brancatti Borges, 54 anos, que dá aula de inglês na escola estadual Professor Suetônio Bittencourt Júnior, em Santos (72 km de SP), disse que sente falta dos alunos, mas tem receio de voltar às aulas presenciais porque tem asma.

“Apesar de estar morrendo de saudade dos alunos, não sei se poderei voltar porque tenho asma. Tenho receio por isso”, disse Sheila.

Professores do Cursinho da Poli, que preparam estudantes para vestibulares, avaliam que o retorno das aulas presenciais deverá ser após a queda no número de casos da Covid-19.

Os professores Silvio (esq.), Eva Nóbrega e Eduardo Izidoro, durante gravação de aulas a distância do Cursinho da Poli para alunos que se preparam para prestar o vestibular neste ano. Ronny Santos/Folha Press/

O professor Eduardo Izidoro Costa, 47 anos, disse que sente falta das conversas e da presença dos alunos mas que não pretende voltar neste momento. “Eu amo meus alunos mas nem por isso quero dar aula na pandemia”, afirmou.

A professora de português Eva Nóbrega, 55 anos, do Cursinho da Poli, também foi desafiada na pandemia a mudar a forma de dar aula, mas agora está adaptada e acredita que o ensino será híbrido.

Retomada deverá ser bem esclarecida

Especialistas em educação ouvidos pela reportagem defendem que é necessário criar uma estratégica de comunicação para falar de forma clara e responsável como será o retorno das aulas presenciais, seja nas escolas públicas ou particulares.

Segundo ele, os governos podem criar os melhores protocolos sanitários e um excelente programa de reforço escolar, mas se os pais, alunos, professores e funcionários não receberem essa informação, não estarão seguros para o retorno.

“Esse retorno não é a volta das férias. Todos foram muito afetadas pela pandemia. Por isso, também é fundamental que todos estejam bem de saúde mental”, afirmou Ivan Gontijo, coordenador de projetos do Todos Pela Educação.

Sobre o ponto de partida para a retomada das aulas presenças, Gontijo disse que varia de acordo com o ano de ensino e de escola. No caso do ensino infantil, que parou e não teve aulas pela internet na rede pública, o conteúdo deve ser retomado de onde parou.

Já para os alunos da rede particular que conseguiu estruturar o ensino remoto, pode voltar dando continuidade ao que está sendo ensinado pela internet. “Já uma escola pública de periferia é necessário diagnosticar o aprendizado de todos os alunos e voltar de onde for necessário”, afirmou.

A professora Maria Amabile Mansutti, diretora de Tecnologias Educacionais do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação), também defende a realização de um diagnóstico da aprendizagem durante o período de aula remota para definir a retomada das aulas presenciais.

Segundo ela, o Ministério da Educação deveria dar orientações sobre como deveria ser esse retorno.
O Ministério da Educação disse, em nota, que está preparando um documento “com orientações para a biossegurança no retorno às aulas da educação básica que poderão nortear estados e municípios”.

Cursinho cria programa para evitar desistências de alunos

O período pré-vestibular já é tenso para os estudantes. Mas em período de pandemia do novo coronavírus, a ansiedade, o medo de pegar a Covid-19 ou de perder a renda está tirado o sono de alguns deles.

Somente na rede estadual de São Paulo são 310 mil alunos matriculados na terceira série do ensino médio que, se aprovados, poderão prestar vestibular em 2021.

Para evitar que eles desistam, o Cursinho da Poli, que prepara estudantes para os principais vestibulares do país, elaborou uma política de acolhimento dos alunos mesmo antes da retomada das aulas presenciais. Semanalmente, os alunos podem conversar por chamada de vídeo com a coordenação.

Aula remota do Cursinho da Poli, em São Paulo; alunos com dúvidas podem conversar com professores por chamada de vídeo – Divulgação

“O ser humano precisa ser escutado e falar ajuda a diminuir essa ansiedade”, afirmou o coordenador do cursinho, Gilberto Alvarez.

Para chegar a essa conclusão, o Cursinho da Poli fez uma pesquisa entre os alunos inicialmente para saber quantos tinham internet para as aulas remotas. Mas depois eles concluíram que 80% estavam ansiosos e com medo do futuro. “Não é falta de internet que preocupa. É acordar e achar que a vida não vai continuar. É isso que dá ansiedade nos alunos”, disse.

Confira a matéria.

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