Por Vanessa Mesquita Dutra

O livro ‘Quarto de despejo – diário de uma favelada’ reproduz os depoimentos de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), a qual viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, em São Paulo. Ela foi descoberta em 1958 pelo jornalista Audálio Dantas, que deparou-se com o diário de Carolina ao apurar o dia a dia da favela para uma matéria do extinto jornal ‘Folha da Manhã.’

A obra está nas listas de leituras obrigatórias dos vestibulares da Unicamp e também da UFRGS.

A professora de língua portuguesa Vanessa Mesquita Dutra comenta a importância da obra e da autora para os exames de entrada das universidades:

É de fundamental importância a presença de Quarto de Despejo no vestibular, por uma série de razões. Primeiro, porque a literatura brasileira – patriarcal, branca, elitista – precisa reconhecer e valorizar a genialidade da arte produzida por Carolina Maria de Jesus – mulher, preta, pobre. Segundo, porque a discussão trazida por ela e sua própria figura revela o Brasil para os brasileiros, através do olhar crítico, e, muitas vezes ácido, de uma mulher periférica inteligentíssima e sensível a seu tempo histórico e a sua condição de pessoa marginalizada.

‘Quarto de Despejo’ é uma obra que, em forma de diário, retrata de modo sensível e perspicaz o cotidiano de Carolina, que pode ser entendida como metonímia de tantos brasileiros favelados. A obra abre margem para discussões sobre as desigualdades sociais do país, sobre violência policial na favela, sobre a chegada dos retirantes na cidade grande e sua exclusão social, sobre a condição da mulher na periferia, sobre violência contra a mulher, sobre a vida da mãe solteira na favela, sobre a opressão dos políticos brasileiros (que só aparecem para pedir votos), sobre a fome e suas consequências nefastas no que se refere à condição da dignidade humana. Mas sobretudo a obra mostra a literatura como estratégia de resistência de uma mulher preta diante das adversidades de um mundo cruel e racista.

Nesse sentido, a Unicamp tem sido vanguarda, ao apresentar obras como a de Carolina e dos Racionais Mcs. A despeito de críticas a respeito da qualidade artística dess@s artistas, a Universidade de Campinas dá uma lição de literatura à crítica tradicional, branca e elitista, a qual muitas vezes se mostra desprovida de instrumental crítico para analisar obras como essas.

Listas de obras ogrigatórias que incluem ‘Quarto de despejo’

Unicamp 2020

Poesia
Sobrevivendo no Inferno – Racionais Mc’s
Sonetos de Luís Camões (selecionados pela Comvest)
A teus pés – Ana Cristina Cesar

Conto
Sagarana – Guimarães Rosa
O Espelho – Machado de Assis

Teatro
O Bem Amado – Dias Gomes

Romance
A falência – Júlia Lopes de Almeida
História do Cerco de Lisboa – José Saramago
Caminhos Cruzados – Érico Veríssimo

Crônica
A Cabra Vadia – Nelson Rodrigues

Diário
Quarto de Despejo – Carolina Maria de Jesus

Sermões
Antonio Vieira (sermões selecionados pela Comvest)

Unicamp 2019

Poesia
Luís de Camões, Sonetos
Jorge de Lima, Poemas Negros (Livro distribuído pelo governo federal no PNBE)
Ana Cristina Cesar, A teus pés

Contos
Clarice Lispector, Amor, do livro Laços de Família
Guimarães Rosa, A hora e a vez de Augusto Matraga, do livro Sagarana
Machado de Assis, O espelho

Teatro
Dias Gomes, O bem amado

Romance
Camilo Castelo Branco, Coração, cabeça e estômago (Livro em domínio público)
Erico Verissimo, Caminhos Cruzados (Livro distribuído pelo governo federal no PNBE)
José Saramago, História do Cerco de Lisboa.

Diário
Carolina Maria de Jesus, Quarto de despejo (Livro distribuído pelo governo federal no PNBE)

Sermões
Antonio Vieira (sermões selecionados pela Comvest)

UFRGS 2019

  1. Florbela Espanca – Poemas: 1. Fanatismo; 2. Horas rubras; 3. Eu; 4. Vaidade; 5. Lágrimas ocultas; 6. A minha dor; 7. Suavidade; 8. Se tu viesses ver-me; 9. Ser poeta; 10. Fumo; 11. Frêmito do meu corpo; 12. Realidade; 13. Súplica; 14. Doce certeza; 15. Quem sabe?!.; 16. A Mulher I; 17. A Mulher II; 18. Amiga; 19. Ódio  20. Amar!; 21. O maior bem; 22. Neurastenia.
  2. Machado de Assis – Papeis avulsos
  3. Maria Firmina dos Reis – Úrsula
  4. William Shakespeare – Hamlet
  5. Valter Hugo Mãe – A máquina de fazer espanhóis
  6. Carolina Maria de Jesus – Quarto de despejo: diário de uma favelada
  7. Elis & Tom – Álbum/Disco de 1974
  8. Michel Laub – Diário da queda
  9. Erico Verissimo – O Continente
  10. Chico Buarque e Paulo Pontes – Gota d’Água
  11. Caio Fernando Abreu – Morangos Mofados
  12. Clarice Lispector – A Hora da Estrela
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