Da origem do dia do trabalho em 20 de junho de 1889 durante a Segunda Internacional Socialista na França até o presente momento, os significados do que representa o conceito de trabalho mudou imensamente: profissões desapareceram com modernização de técnicas e tecnologias, a robotização tirou mais pessoas das linhas de montagem, o trabalho informal (sem qualquer tipo de proteção de legislação trabalhista) cresceu enormemente, novos tipos de emprego surgiram ligados às novas relações de trabalho no mundo globalizado (terceirização), mas ainda sim, persistem formas de trabalho que são análogas à escravidão em diferentes países, ricos ou pobres. No passado, operar uma máquina ou dirigir um veículo era algo independente de ser alfabetizado e ter uma escolaridade mínima. Hoje, a escolarização que é um nicho de mercado precioso não atinge seu objetivo essencial, porque muitos saem da escola com o ensino médio completo e são analfabetos funcionais, seja no seu idioma materno, seja em inglês, afora o desconhecimento das principais ferramentas tecnológicas de informática, retirando destas pessoas as chances de uma profissionalização mínima.
Ser assalariado ainda significa ser obrigado a vender a sua força de trabalho para sobreviver. Todavia, não há emprego para todos. O número de pessoas que vivem em condições miseráveis é imenso. A precarização das condições de trabalho acelerou, e por outro lado, a concentração de renda e de poder também continua imensa nas mãos de pequenos grupos de privilegiados.
É tentador enaltecer os avanços tecnológicos, especialmente quando comparados com as gerações anteriores; sem ir muito longe, percebe-se que a vida hoje é bem diferente da de nossos pais e avós, ao mesmo tempo o quanto a inventividade humana pode resolver problemas e propor facilidades para o cotidiano atual, dando uma sensação de segurança e potência.
Infelizmente, o trabalho ainda continua sendo bastante difícil para milhões, e nos poucos lugares que ainda há algum amparo, como por exemplo, no Brasil, a revisão da legislação trabalhista em prol do segmento patronal abriu espaço para inúmeros problemas: o esvaziamento dos sindicatos e a postura distanciada de alguns de seus líderes, a implementação das cooperativas e empresas terceirizadas sob a pretensão de alavancar o crescimento da economia. Tudo em detrimento dos direitos trabalhistas, que impõem mais suor do trabalhador, pagando menos e oprimindo mais.
O futuro das condições de trabalho, de um modo geral, é bastante incerto. A consciência de classe é praticamente inexistente e o que resta é algo que permeia a existência de todas as espécies: busca da sobrevivência e nada mais.
Pela influência da teologia da prosperidade, de matriz calvinista, escuta-se há cinco séculos que “o trabalho engrandece, dignifica e enobrece o ser humano”, todavia, caminhamos aceleradamente para uma situação cada vez mais tensa e incerta: o emprego, a remuneração tendem a se reduzir de modo inversamente proporcional à precarização provocada pela exploração, e tudo isso está ligado à concepção de que o ser humano é valorizado pelas suas posses e não por seus valores e caráter.
Na atualidade não há o que comemorar no Dia do Trabalho. Há esperança? Pensando numa saída, as palavras do artista plástico alemão Joseph Beuys (1921-86) propõem uma reflexão: “A dignidade das pessoas, dos animais, de toda a natureza deve uma vez mais retornar para o centro da experiência”.
Ao se pensar na dignidade das pessoas, o capital não deve prevalecer sobre o trabalho, e neste aspecto, os devaneios do “Estado Mínimo” devem ser afastados, pois são desumanos e mantenedores dos privilégios de poucos em prejuízo de milhões.
Quanto aos animais e à Natureza como um todo, a vida precisa ser amparada em valores que não sejam o consumismo e a acumulação, voltando-se para o reforço da coletividade, sustentabilidade, liberdade e redução da desigualdade social.
Prof. Elias Feitosa – Professor de História, Filosofia e Sociologia do Cursinho da Poli