Por Eva Albuquerque*

Esse que você vê é um poema concreto. Na imagem, a letra S desenha e escreve She, ao mesmo tempo em que compõe formas sinuosas e enlaça o he. O poema poderia evocar, por um lado, que os gêneros humanos se completam um no outro e, por outro, haveria a supremacia da feminilidade sobre a masculinidade, já que he (= ele) é configurado no interior de She (= ela). Pertencente ao Concretismo, esse poema está no livro Logogramas e foi composto em 1966 por Pedro Xisto (1901-1987).

Mas você sabe o que foi o Concretismo?

Foi um movimento idealizado e realizado pelos irmãos Haroldo e Augusto de Campos e também por Décio Pignatari. O projeto estético do Concretismo teve início na década de 1950. Nesse período, o Brasil vivia uma época de democratização política sob o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960), cuja propaganda oficial prometia um avanço histórico de cinquenta anos em cinco.

O movimento dialogou intensamente com as artes visuais, a arquitetura e a exploração das possibilidades de combinações e efeitos de sentido das palavras no espaço urbano e nos suportes materiais que ganham relevância no século XX.

De acordo com o poeta brasileiro Philadelpho Menezes, a poesia concreta estava “intimamente associada ao movimento de boom desenvolvimentista que levanta o país nos anos 50, simbolizado exemplarmente pelo plano de criação de Brasília, uma nova cidade idealizada como centro do poder, matematicamente situada no centro geográfico do país. Basta recordar que o principal texto da poesia concreta, publicado em 1958, tem o título Plano Piloto para Poesia Concreta, assinado por Augusto de Campos (1931), Haroldo de Campos (1929-2003) e Décio Pignatari (1927-2012).

É uma citação direta e assumida do Plano Piloto para a Construção de Brasília, elaborado por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, que sonhava construir do nada, em meio ao inóspito cerrado do Planalto Central brasileiro, uma cidade dentro dos moldes mais racionalistas idealizados pelo urbanismo modernista europeu. O Concretismo influenciou o Tropicalismo e ainda hoje deita raízes nas obras de artistas como Arnaldo Antunes, por exemplo.  


*Professora de português do Cursinho da Poli

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