2021: O ano sem carnaval

O carnaval é um dos maiores símbolos culturais do país. É muito mais do que samba, muito mais do que uma festa.  Para muitos brasileiros, é um momento de extravaso, um motivo para se reunir e uma comunidade para pertencer. Para outros, é uma fonte de sustento. Devido à pandemia do coronavírus, o governo proibiu blocos de rua e desfiles de carnaval para evitar aglomerações, provocando um grande impacto não apenas econômico, mas também na saúde mental das pessoas.

Emocionalmente, o carnaval afeta demais as pessoas. Durante o ano todo, milhões se reúnem para ensaiar o desfile, conversar, dançar e extravasar. Esse ano, não será possível comemorar essa festa na rua, nos blocos ou no Sambódromo e, para muitos, será proibido inclusive viajar, pois não será decretado feriado nas empresas. O funcionário deverá trabalhar – alguns não terão o melhor rendimento. Além disso, o estresse do trabalho e dos problemas pessoais sem momentos de extravasamento poderão provocar transtornos mentais, psíquicos e alimentares – e, ainda, agravar os já existentes.

O cancelamento do carnaval gera impactos econômicos enormes num país que já está em uma crise econômica profunda. Tradicionalmente, essa festa gera renda e empregos e movimenta setores como o turístico, o hoteleiro e o têxtil. Lucas Alves, estilista há 5 anos no carnaval de São Paulo, está acostumado a costurar fantasias para rainhas, musas e porta-bandeiras de grandes escolas de samba. Esse ano, no entanto, foi bem diferente: não houve nenhuma encomenda ou serviço. “Vários amigos tiveram que fechar o ateliê por conta da falta de trabalho. Tentei procurar emprego em outra área, mas não consegui”. Assim, ele precisou partir para outra frente. Ainda trabalhando com moda, agora faz figurinos para clipes musicais de cantoras e também aproveitou o Natal e Ano Novo para vender roupas festivas.

O samba se tornou uma identidade cultural por meio da dispersão territorial. “Na capital paulista, a contaminação do gênero musical esteve interligada a um processo de expansão urbana, que foi identificado a partir de um recorte geográfico e socioeconômico da cidade”, diz o Prof. Alessandro Dozena, autor do livro “A Geografia do Samba na Cidade de São Paulo” (Editora PoliSaber). Em recente pesquisa, ele elucida essa dimensão cultural e sua influência em outro continente. Segundo o autor, podemos considerar o samba como uma commodity brasileira. “Desde o fenômeno Carmen Miranda, o ritmo é um produto de grande exportação. Na Europa, por exemplo, existe uma busca pela reconstrução da cultura original, uma necessidade que atrai influências externas. A curiosidade pela cultura brasileira permite concessões dentro de um processo de integração”, explica.

Para mais informações sobre o livro, A Geografia do Samba na Cidade de São Paulo, clique aqui.


livro geografia do samba
Livro Geografia do samba na cidade de São Paulo (Alessandro Dozena): uma pesquisa detalhada sobre como o samba se espalhou pela capital paulista

1912: a primeira vez sem carnaval

Não, 2021 não é a primeira vez que o carnaval foi cancelado no Brasil. Poucos sabem, mas no ano de 1912 isso também aconteceu. Em julho de 2020, o Prof. Silvio Pera – professor de história do Cursinho da Poli – gravou um vídeo incrível sobre “Os Dois Carnavais em 1912”, com um conteúdo excelente sobre aquela época. Além disso, ele comenta sobre o então adiado carnaval de 2021 – ainda sem data definida.

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