No dia 5 de junho de 2019, Cláudio Manuel da Costa, um dos maiores escritores arcadistas brasileiros, completaria 290 anos. Amigo do famoso escultor Aleijadinho, e do também escritor Tomás Antônio Gonzaga, esteve envolvido na Inconfidência Mineira e foi preso após o sufocamento do movimento pela Coroa Portuguesa. As circunstâncias de sua morte fazem parte de um grande mistério, visto que foi encontrado morto na prisão em julho de 1789. Contudo, seu nome até hoje representa o movimento literário brasileiro. Para conhecer mais sobre o Arcadismo Brasileiro, conversamos com a professora de Linguagens e Códigos do Cursinho da Poli, Vanessa Mesquita Dutra.
Quem foi Cláudio Manuel da Costa?
Ele foi um poeta do Brasil colônia, na época da Mineração. Deu início ao Arcadismo no Brasil com seu livro “Obras Poéticas”, teve participação na Conjuração Mineira e é patrono da cadeira nº. 8 da Academia Brasileira de Letras. Foi um poeta de técnica apurada, que procurou equilibrar a sua forte vocação barroca ao estilo neoclássico. Ele introduziu em seus textos elementos locais, descrevendo paisagens mineiras. Seu pseudônimo pastoril era Glauceste Satúrnio e sua musa inspiradora foi Nise.
Como surgiu o Arcadismo?
O movimento surgiu no continente europeu, no século XVIII, durante uma época de ascensão da burguesia e de seus valores, quando movimentos liberais estavam pipocando em diferentes países, com forte influência Iluminista. Esse estilo literário se consolida depois do Barroco – período de conflito entre Razão e Fé, com vitória da primeira sobre a segunda. Os árcades valorizam a vida bucólica, tendo a natureza como cenário; são inspirados pelos clássicos (são neoclássicos), especilmente por Horácio, um dos escritores favoritos dos autores desse período.
O nome Arcádia é uma referência a uma região mítica da Grécia, criada por Árcade, filho de Zeus. Nesse lugar, havia pastores que se dedicavam à poesia e à música, além do pastoreio. Para o árcade, a natureza também é um cenário para viver o amor, sem pudores. Eles buscam a felicidade, a qual é atrelada à vida no campo, longe da cidade – que na verdade era onde estavam inseridos, daí a idea de fingimento árcade; afinal, eles estavam na cidade e, pela poesia, transportavam-se ao campo, lugar supostamente ideal (no nosso imaginário, ainda hoje) para ser feliz.
Como ele surgiu no Brasil?
No Brasil, o Arcadismo teve como pontapé inicial o livro “Obras Poéticas”, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768.
Quais foram os pricipais autores brasileiros desse período e onde viviam?
Eles viviam na cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto, em Minas Gerais. Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga , principais autores brasileiros do período, participaram ativamente da Conjuração Mineira, tendo sofrido as consequências negativas dessa luta política. Nessa época, essas cidades mineiras recebiam um enorme contingente populacional, todos em busca de ouro, foi a fase da Mineração, no século XVIII.
Quais são as características desse movimento literário?
Mesmo vivendo numa cidade que crescia a cada dia, tornando-se bastante populosa; na poesia, o que se valorizava, era a vida próxima à natureza. Eles fingiam estar no campo, usavam pseudônimos pastoris, objetividade em seus textos (bem diferentes dos autores barrocos), linguagem simples, pastoralismo. Além disso, utilizavam tópicos originados em textos do poeta latino Horácio, da Antiguidade Clássica, conforme vemos a seguir:
- Inutilia truncat (cortar o inútil)
- Locus amoenus (lugar ameno)
- Aurea mediocritas (meio-termo é áureo=equilíbrio)
- Fugere urbem (fugir da cidade)
- Carpe diem (colha o dia)
Quais os principais autores e suas principais obras?
Podemos destacar como os principais autores do arcadismo no Brasil Tomás Antônio Gonzaga, autor de Marília de Dirceu, e Cartas Chilenas; e, claro, Cláudio Manuel da Costa, autor de Obras Poéticas de Glauceste Satúrnio, Epicédio, Culto Métrico e Vila Rica. Outros nomes do arcadismo no Brasileiro foram Basílio da Gama, autor de O Uraguai, Os Campos Elíseos e Quitúbia; Santa Rita Durão, autor de Caramuru – Poema Épico do Descobrimento da Bahia.
Cláudio Manuel da Costa/Imagem: Reprodução
E você? Prefere viver no campo ou na cidade? Vamos fugir (fugere urbem)? Reflita ao som de Gilberto Gil (sugestão da professora):
“Vamos fugir deste lugar, baby!
Vamos fugir.
Tô cansado de esperar
Que você me carregue…”