A humanidade utiliza armas químicas desde a Antiguidade, seja com flechas envenenadas ou com substâncias letais despejadas na água potável. No entanto, os recentes ataques contra a população síria lembram que houve grande diversidade de agentes tóxicos empregados em conflitos no último século.
A Primeira Guerra Mundial foi o primeiro conflito a fazer uso de substâncias como arma em larga escala. Os ataques químicos perpetrados durante esse período levaram ao banimento de ações semelhantes pelo Tratado de Genebra. Infelizmente, a decisão não impediu outros exemplos nas décadas subsequentes.
Gás Clorídrico – Cl
Foi a primeira substância letal utilizada pelos alemães, em um grande ataque químico contra forças francesas, canadenses e argelinas na Segunda Batalha de Ipres, na Bélgica, em 22 de abril de 1915.
O gás forma ácido hipocloroso quando entra em contato com água, resultando em danos graves aos olhos e pulmões e causando cegueira e asfixia. O saldo foi de 6 mil franceses mortos, grande parte nos primeiros 10 minutos da ação, e muitos outros feridos ou cegos. Como o agente tóxico foi dispersado pelo vento, houve mortos e feridos também entre os combatentes alemães que levaram os milhares de tonéis de gás às trincheiras.
Outro registro histórico de seu uso foi durante a Guerra do Iraque, no ano de 2007, em ataques da Al Qaeda.
Gás Mostarda – (ClCH2CH2)2S
Também conhecido como iperita, esse agente tóxico substituiu o gás clorídrico, ainda durante a Primeira Guerra Mundial, e também foi usado pela Itália fascista de 1935 a 1936 durante a invasão da Etiópia, na Segunda Guerra Ítalo-Etíope.
A substância pode passar por tecidos como lã ou algodão, entrando em contato com a pele mesmo que não esteja exposta ao ar. Como os sintomas quase nunca são imediatos e áreas contaminadas parecem normais, é possível haver muita exposição ao gás.
Após 24 horas, seus efeitos se iniciam com muita irritação e coceira nos locais afetados, seguidas por grandes bolhas repletas de fluido amarelado. Se grandes quantidades forem respiradas, a vítima pode apresentar bolhas e sangramento no trato respiratório.
Ambos os lados da Primeira Guerra Mundial fizeram uso da arma. O nome “gás mostarda” deriva do cheiro da substância, que pode lembrar mostarda, alho ou raiz-forte.
Fosgênio – COCl2
Como um gás incolor e dotado de odor mais fraco que os outros gases usados na Primeira Guerra Mundial, o fosgênio era de detecção e evasão mais difícil.
Trata-se de uma substância mais densa que o gás clorídrico, então uma combinação de ambos ajudava na dispersão. Os sintomas à exposição não são imediatos, mas podem levar à asfixia e à morte, pois rompem as membranas que separam os alvéolos pulmonares dos vasos sanguíneos para evitar bolhas de ar no sangue e sangue nos pulmões.
O agente tóxico também foi empregado frequentemente pelo Exército Imperial Japonês durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa, de 1937 a 1945.
Gás Sarin – [(CH3)2CHO]CH3P(O)F
Esse composto organofosforado foi classificado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como uma arma de destruição em massa, e foi utilizado em diversos momentos da história. O mais recente é o ataque à população síria, em abril de 2017, que deixou 86 mortos e 550 feridos.
Porém, a História registra diversos usos, como no ataque terrorista em Tóquio, em 1995, e na Guerra Irã-Iraque, de 1980 a 1988.
Descoberto em 1939 na Alemanha nazista, o sarin faz parte de um grupo de agentes químicos que ataca o sistema nervoso, no caso resultando em sintomas como dificuldade para respirar, náusea, vômitos, e rapidamente evoluindo para coma e espasmos. A vítima pode morrer entre um e dez minutos após a inalação da substância. Sendo inodora e incolor, se torna ainda mais perigosa pela dificuldade de detecção.
Zyklon B – HCN
Este era o nome patenteado de um composto à base de cianeto (ou cianureto) de hidrogênio, inicialmente usado como pesticida em 1880, na Califórnia. É mais conhecido como a substância comumente utilizada pela Alemanha nazista para executar os prisioneiros de campos de extermínio em câmaras de gás.
O Zyklon B interfere na respiração celular, levando as vítimas ao estado de coma, apresentando convulsões, falta de ar e parada cardiorrespiratória. A morte pode ocorrer em uma questão de segundos.
O composto foi utilizado pelos alemães para exterminar aproximadamente um milhão de prisioneiros de 1941 a 1944, a maior parte deles no campo de concentração e extermínio chamado Auschwitz.
Napalm – C16H32O2 e C10H18O2
Uma das armas químicas mais conhecidas, o napalm foi desenvolvido em 1942 na Universidade de Harvard. Embora tenha sido utilizada pela primeira vez na Segunda Guerra Mundial, a substância incendiária foi empregada em larga escala durante as Guerras da Coréia, de 1950 a 1953, e do Vietnã, de 1955 a 1975.
Ao longo de 10 anos de conflito, estima-se que os EUA tenham lançado 388 mil toneladas de bombas de napalm em solo vietnamita. Em contraste, as forças militares estadunidenses usaram aproximadamente 32 mil toneladas durante a Guerra da Coréia.
A substância é composta por um agente espessante e um combustível, como gasolina, e adere à pele com facilidade. Em chamas, o napalm causa queimaduras severas, além de resultar em asfixia, perda de consciência e morte.
Agente Laranja – C8H6Cl2O3 e C8H5Cl3O3
Também usado pelo exército dos EUA na Guerra do Vietnã, no período de 1962 a 1971, o Herbicida Laranja atingiu 4 milhões de pessoas e causou doenças em 3 milhões, segundo o governo vietnamita.
Os efeitos da substância danificam os genes das vítimas, podendo levar seus descendentes a desenvolver deformidades e doenças como leucemia e Linfoma de Hodgkin.
O Agente Laranja é composto por partes iguais dos herbicidas Ácido 2,4,5 – Triclorofenoxiacético (C8H5Cl3O3) e Ácido diclorofenoxiacético (C8H6Cl2O3). Seu uso teve como objetivo principal desmatar grandes áreas, privando assim os guerrilheiros de comida e esconderijo. Aviões aspergiram mais de 75 milhões de litros desse e outros herbicidas sobre as florestas do Vietnã, não só atingindo a população humana diretamente, mas também causando grande impacto ambiental.