O número de inscritos confirmados neste ano com 60 anos ou mais cresceu 191% em relação ao exame de 2022.
Na edição deste ano da prova, o número de inscritos confirmados com 60 anos de idade ou mais cresceu 191% em relação ao exame de 2022. Nesse período, o número de participantes dessa faixa etária passou de 5,9 mil para quase 17,2 mil.
Os estados que registraram o maior número de pessoas idosas com inscrição confirmada foram Rio de Janeiro (3.087), São Paulo (2.367) e Minas Gerais (1.997).
Na visão de Eva Albuquerque Nóbrega, professora de Língua Portuguesa do Cursinho da Poli, o assunto é atual e inclusivo.
“Esse tema pensa na inclusão, em como o jovem pode refletir sobre a construção de um Brasil em que os mais velhos sejam incluídos com responsabilidade e dignidade. E o jovem também pode pensar numa proposta de intervenção interessante, porque é uma realidade que acontecerá com ele”, disse a professora.
“Portanto, é um tema pertinente, atual e necessário para se repensar a sociedade brasileira e construir uma nação com futuro digno para todos.”
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a população brasileira com 60 anos ou mais cresceu 56% entre os censos de 2010 e 2022, chegando a 32,1 milhões de pessoas, o que representa 15,6% do total. O IBGE prevê que, em 2070, quase 38% da população brasileira estará nessa faixa etária.
Tema social, inclusivo e atual
Nóbrega destaca que, ao incluir a palavra “perspectivas” no tema da redação, o Enem busca um olhar mais positivo, com intervenções construtivas por parte do aluno na elaboração do texto.
Outro ponto que ela considera interessante é que o tema possibilita ao estudante abordar o passado, o presente e o futuro, tendo em vista que o Brasil ainda não criou uma sociedade que atenda às necessidades dos idosos nos âmbitos da saúde, da cultura e da infraestrutura urbana.
“O jovem pode pensar num futuro mais adequado; o tema faz refletir. É, novamente, um tema social, como o Enem sempre aborda”, afirma.
A professora do Cursinho da Poli disse ter gostado do tema também porque o envelhecimento é uma realidade que acontece para todos. “Não é uma situação que aborda o outro. Já tivemos temas como herança africana e população indígena, que não abarcam a todos.”
Gesto político e pedagógico
Renato Júdice, diretor de Ensino e Inovações do COC, destaca que, ao escolher o tema do envelhecimento para a redação deste ano, o Enem faz um gesto político e pedagógico ao mesmo tempo.
“Ele está nos lembrando que o debate sobre os idosos não é um assunto de nicho: precisa ser uma agenda de país. É quase como se disséssemos que planejar a longevidade é tão estratégico quanto discutir educação básica, inovação tecnológica ou temas de importância ambiental — como a própria COP30 faz neste momento”, ressalta.
O diretor do COC destaca ainda que o Enem enxerga a ideia de envelhecimento como um direito social e traz à tona a necessidade de políticas de cuidado de longa duração.
Debate na sociedade
Segundo Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações da Arco Educação, os temas das redações do Enem impulsionam o debate na sociedade.
“Eles levantam a bola para uma discussão na sociedade. O Enem é realizado por quase 5 milhões de alunos”, disse.
Ele lembrou de assuntos abordados em anos anteriores, como a invisibilidade das mulheres no trabalho do cuidado, que acabaram se tornando temas recorrentes em diferentes discussões.
Celedônio lembrou ainda que a Prova Nacional Docente (PND) 2025, realizada há menos de um mês, trouxe em uma de suas questões o tema do idadismo, ressaltando a importância do assunto num cenário de inversão da pirâmide populacional brasileira em poucos anos.
Inversão da pirâmide demográfica
Gabriela Jardim, professora da Escola Eleva, destaca que a escolha do tema do envelhecimento da população vem num momento em que se projeta uma inversão da pirâmide demográfica e uma redução da taxa de natalidade.
Dados do IBGE mostram que, em 2030, 18% da população terá 60 anos ou mais, contra 17,6% de crianças com até 14 anos.
“O tema nos convida a reconhecer a necessidade de ampliar os investimentos em saúde preventiva, combater posturas elitistas e valorizar novos perfis sociais.”
Sidinéia Azevedo, professora de redação do Bernoulli Educação, ressaltou que “hoje temos a perspectiva da economia prateada, uma economia voltada especificamente para as demandas desse público. Observem que há empresas de turismo especializadas e programas de farmácia que visam beneficiar os idosos — ou seja, é importante criar medidas que ajudem a minimizar esse problema.”
